Povo Cigano


A verdadeira orígem dos Ciganos (Rom e Sintos)



Muitos mitos tem sido elaborados sobre a orígem desse misterioso povo presente em todas as nações do ocidente, chamado de maneiras diferentes, comumente conhecidos como gitanos, ciganos, zíngaros, etc., cujo nome verdadeiro é Rom (ou melhor, Rhom) para a maioria dos grupos e Sintos para os demais. Não exporemos aqui as lendas universalmente reconhecidas como tais, a não ser o último mito mais largamente difundido que ainda é considerado como verdade: a presumida orígem indo-européia.

O fato de que o povo rom chegou à Europa proveniente de algum lugar da India não significa que tenham vindo de sua terra de orígem. Todos viemos de algum lugar onde nossos ancestrais viveram, quiçá tendo chegado eles mesmos de algum outro país. Toda a hipótese que sustenta a orígem indo-européia se apóia num único elemento: o idioma romanês. Tal teoria não leva em conta outros fatores culturais muito mais importantes que evidenciam claramente que o povo rom não tem nada em comum com as gentes da India, exceto elementos linguísticos. Se devêssemos levar a sério uma hipótese que se baseia sómente no idioma para determinar a orígem do povo, chegaríamos à conclusão de que quase todos os norte-africanos vieram da Arábia, que os judeus ashkenazim são uma tribo germânica, que os judeus sefaraditas são simplesmente espanhóis que praticam outra religião e não que são um povo diferente, etc. Os afro-americanos não sabem sequer que idioma falavam seus ancestrais e portanto deveriam considerar-se ingleses. Definitivamente, o idioma por si mesmo não é suficiente para definir a pertinência étnica, e todos os demais fatores determinantes são contrários à idéia de uma orígem indiana do povo rom - incluindo alguns elementos presentes no próprio idioma romaní. Os fatores mais importantes que permanecem em todo povo desde a mais remota antiguidade são de consistência espiritual, que se manifestam nos sentimentos mais íntimos, comportamentos típicos, memória coletiva, quer dizer, na herança atávica.

Os estudiosos fizeram muitos esforços com o propósito de demonstrar a orígem indiana do povo rom, todos os quais foram inúteis por falta de evidências. Alguns documentos que foram inicialmente considerados como referentes ao povo rom, como por exemplo os escritos de Firdawsi, tem sido sucessivamente desacreditados. Demonstrou-se que todos os povos dos quais se pensou que poderiam ter alguma relação com os ciganos, como os dom, os luris, os gaduliya lohars, os lambadis, os banjaras, etc, na realidade não tem sequer uma orígem comum com o povo rom. A única semelhança entre todos eles é a tendência à vida nômade e o exercício de profissões que são típicas de toda tribo de qualquer extração étnica que pratica tal estilo de vida. Todos estes resultados inúteis são a consequência natural de uma investigação realizada a partir de parâmetros errados, ignorando a essência da cultura romaní e a herança espiritual do povo cigano, que é incompatível com qualquer povo da India.

Uma teoria que recentemente está obtendo sucesso no ambiente intelectual interessado no argumento (teoria destinada a provar-se errônea como todas as precedentes) pretende ter descoberto a "cidade" original na qual o povo rom poderia ter suas orígens: Kannauj, em Uttar Pradesh, India. O autor chegou a algumas conclusões interessantes que desacreditam todas as precedentes, sem dúvida seguiu a mesma linha investigativa que produziu o fracasso daquelas outras: o indício linguístico, que o conduz indefectivelmente a obter um resultado errado. Por conseguinte, o autor funda sua hipótese inteiramente sobre uma suposta evidência linguística, a qual é absolutamente insuficiente para explicar os aspectos culturais do povo rom que não estão relacionados com o idioma e que indubitavelmente são muito mais importantes, aspectos que constrastam com a teoria proposta.

Neste estudo citarei algumas afirmações do autor (traduzindo-as do texto em inglês) recolocando sua estranha forma de escrever as palavras em língua romaní com uma forma mais exata e compreensível - por exemplo, o caracter "rr" não representa nenhum fonema em romanês; o som gutural do "r" está melhor representado como "rh", mesmo que nem todos os dialetos ciganos pronunciem desta forma, como o próprio gentílico "rom" se pronuncia "rhom", porém também simplesmente "rom". Geralmente o "h" se usa para indicar uma sonoridade alternativa da consoante que o precede e no caso no qual os acentos ortográficos, circunflexos e outros sinais não se podem reproduzir de maneira adequada, o "h" serve como a melhor letra complementar na maioria dos casos. Pessoalmente prefiro o alfabeto esloveno com algumas leves modificações para transcrever corretamente a língua romaní, porém na internet nem sempre é possível ver as páginas como foram escritas quando se usam sinais ortográficos não convencionais, portanto usarei a forma alternativa que consiste em agregar letras complementares.

" É sabido que na realidade não existe nenhum povo na India atualmente que possa estar aparentado com os rom. Os vários grupos etiquetados como "gypsies" (com "g" minúsculo) na India não tem nenhuma relação genética com os ciganos. Estes adquiriram o título de "gypsies" através da polícia colonialista britânica que no século XIX os chamou assim por analogia com os "Gypsies" da Inglaterra. Sucessivamente lhes aplicaram as mesmas leis discriminatórias que existiam para os "Gypsies" ingleses. Logo a maioria dos estudiosos europeus, convencidos de que o nomadismo ou a mobilidade são um caráter fundamental da identidade romaní insistiram em comparar os rom com várias tribos nômades da India, sem encontrar nenhum outro caráter em comum, porque suas investigações eram afetadas por preconceitos para com os grupos nômades".

Isto é certo, os investigadores tomaram idéias preconcebidas sobre as quais fundaram suas hipóteses. Sem dúvida, o autor não é uma exceção e cometeu o mesmo erro. De sua própria declaração resultam as seguintes perguntas: Por que não existe nenhum povo na India aparentado com os rom? Por que toda a população cigana emigrou sem deixar o menor traço de si mesmos, ou alguns parentes? Há uma só resposta: porque não eram da India, sua orígem não pertencia àquela terra, e sua cultura era demasiado incompatível com a cultura indiana.

Só uma minoria religiosa pode emigrar em massa de um país no qual a maioria dos habitantes pertencem a sua própria família étnica. E uma minoria religiosa naqueles tempos significava que era uma confissão "importada", não gerada no ambiente indiano.

O presumido exílio em Jorasan exposto pelo autor como a razão pela qual o povo rom abandonou a India carece de fundamento, pois não dá uma explicação sobre as crenças e tradições ancestrais dos ciganos, as quais não são nem indianas nem islâmicas (porque Jorasan nessa época não era mazdeísta [ou zoroastrista] já desde muito tempo atrás), porém falaremos deste argumento mais adiante neste estudo.

De toda maneira, o autor revela um mito na seguinte declaração:

" Quanto às presumidas semelhanças entre o idioma romaní e outras línguas indianas, geralmente o punjab e o rajastani, trata-se sómente de um estratagema usado pelos nacionalistas que representam tais grupos linguísticos e defendem os interesses das respectivas nações: eles simplesmente tentam aumentar artificialmente o número da própria população".

Este é exatamente o caso. Tive a oportunidade por mera casualidade de encontrar na internet grupos de discussão rajput/jat nos quais eles dizem estar convencidos de que os ciganos são um clan jat ou rajput. Se o fazem ou não em boa fé, o fato é que suas declarações são expressadas em um contexto nacionalista e parecem perseguir propósitos de tipo político. A principal presumida prova que apresentam é que os árabes chamavam aos ciganos de "zott", que significa "jat", desde o momento em que aparentemente chegaram ao Oriente Médio. Sinceramente, os escritos dos historiadores árabes são apenas um pouco mais exatos que as fábulas de "As mil e uma noites" quanto à precisão histórica.

Havendo devidamente reconhecido estas importantes reflexões do autor da "teoria Kannauj", agora exponho suas afirmações sobre as quais fundou erroneamente toda a sua hipótese:

"Contrariamente ao que normalmente lemos em quase todas as publicações, os primeiros rom chegaram à Europa conhecendo suas orígens indianas. Há evidências disto em vários documentos dos séculos XV e XVI. É só depois que a mítica orígem egípcia se propôs contra as versões que sustentavam a proveniência indiana. Sendo mais prestigioso, seria eventualmente mais fácil para a própria integração na Europa. Pouco a pouco o mito da orígem egípcia foi aceito como autêntico".

"Entre todas as lendas, uma das mais difundidas é a da presumida orígem egípcia do povo rom, que eles mesmos começaram a promover no início do século XVI [...] Em ambos os casos, o prestígio do Egito com base na Bíblia e as histórias de perseguições sofridas pelos cristãos nesse país provavelmente alimentaram uma maior aceitação da lenda egípcia no lugar da orígem indiana, e provavelmente os ajudou a obter salvo-condutos e cartas de recomendação da parte de príncipes, reis e mesmo do papa ".

A primeira afirmação é inexata porque há documentos precedentes, inclusive do século XII d. c., nos quais os "egípcios" são mencionados em relação com os ciganos. Normalmente os rom foram chamados de distintas maneiras segundo a proveniência imediata, por exemplo na Europa ocidental os primeiros ciganos eram conhecidos como "bohêmios", "húngaros", etc. ( esta última denominação é ainda muito comum em muitos países), enquanto que os árabes os chamavam de "zott", significando "jat", porque provinham do vale do Indo. É certo que jamais foram chamados de "indianos" na Europa. Sem dúvida, tendo chegado à Europa pelo Iran e Armênia através do Bósforo, é improvável que tenham passado pelo Egito - existia na própria memória histórica o fato de que tenham estado antes no Egito, desde onde seu caminho errante começou, e assim declararam sua orígem mais antiga. Naquele tempo a India havia sido completamente esquecida. Antes de chegar a território bizantino, como o autor mesmo admite, os rom habitaram por longo tempo em países muçulmanos, e é certamente sabido que quem quer que tenha abraçado o islam dificilmente se converte ao cristianismo. Quando os ciganos chegaram a Bizâncio, já eram cristãos.

Agora se apresenta um enigma interessante: Como podiam os ciganos conhecer A BÍBLIA em território muçulmano? Isto é algo que o autor não pode justificar de maneira nenhuma, porque na realidade os rom não conheciam as Escrituras senão só por ouvido até tempos muito recentes. Seguramente na India, na Pérsia e em terras árabes onde viveram antes de chegar à Europa não poderiam ter ouvido jamais nenhum comentário sobre a Bíblia, nem tampouco em Bizâncio ou Europa, onde o acesso às Escrituras estava proibido à gente comum e não existiam versões em língua corrente. Não há possibilidade de que os ciganos conhecessem a Bíblia a não ser somente no caso que a história bíblica estivesse profundamente radicada em sua memória coletiva.

Esta memória se conservou durante o prolongado exílio na India de um modo tão forte que não adotaram nem sequer o menor elemento da cultura hindu nem de nenhuma outra existente na India. A maioria dos ciganos lê a Bíblia agora, e todos eles exclamam assombrados: "Todas as nossas leis e costumes estão escritos aqui!"- nenhum outro povo sobre a face da terra pode dizer o mesmo, exceto os judeus. Nenhum povo da India, nem de outro país.

" Em todo caso, em Bizâncio em época primitiva, os adivinhos ciganos eram chamados de Aigyptissai, "egípcios", e o clero proibiu o povo de consultá-los para saber o futuro. Tomando como pretexto o livro de Ezequiel (30:23), os rom foram chamados de egípcios não só nos Balcãs mas também na Hungria, onde no passado referiam-se a eles como "povo do Faraó" (Faraonépek)e no ocidente, onde palavras provenientes do nome grego dado aos egípcios (Aigypt[an]oi, Gypsy e Gitano) se usam ainda em referência ao ramo atlântico do povo rom".

Devia existir um motivo pelo qual em Bizâncio eram chamados de egípcios, motivo que o autor não explica. É que os ciganos sabiam que tinham estado no Egito em uma época remota do passado. Há outra palavra grega pela qual os ciganos eram conhecidos em Bizâncio: "athinganoi", da qual derivam os termos cigány, tsigan, zíngaro, etc. Os bizantinos conheciam perfeitamente quem eram os athinganoi e identificaram com eles os rom. De fato, a pouca informação que temos sobre esse grupo coincide em muitos aspectos com a descrição dos ciganos. Não há provas suficientes para afirmar que os athinganoi fossem rom, porém tampouco existem evidências do contrário. A única razão pela qual a possível identificação dos athinganoi com os ciganos foi descartada a priori é porque aqueles são mencionados no início do século VI d. c., época na qual, segundo os empedernidos sustentadores da teoria da orígem indiana, os ciganos não deviam estar na Anatólia. Os athinganoi eram chamados assim em relação a seus conceitos e leis de purificação ritual, considerando impuro todo contato com outro povo, muito similares às leis ciganas para os "payos" ou "gadjôs" (não ciganos). Praticavam a magia, a adivinhação, o encantamento de serpentes, etc, e suas crenças eram uma espécie de judaísmo "reformado" mesclado com cristianismo (ou com mazdeísmo/ zoroastrismo); observavam o Shabat e outros preceitos hebraicos, criam na Unidade de Deus, porém não praticavam a circuncisão e se batizavam (prática que não é exclusivamente cristã, senão também comum entre os adoradores do fogo). Quanto aos athinganoi, a Enciclopédia Judaica diz: "podem ser considerados judeus".

Outro fator significativo é que os ciganos relacionam sua condição de constante movimento com o faraó, uma coisa que pertence exclusivamente ao povo hebreu. Os documentos mais antigos sobre a chegada dos rom à Europa constatam sua declaração de haverem sido escravos do faraó no Egito, da qual surgem duas possíveis deduções: ou era parte de sua memória histórica ou era algo que inventaram para ganhar o favor das pessoas - a segunda possibilidade é completamente improvável, posto que esta os identificaria com um só povo, exatamente o mais odiado na Europa e não era certamente a identidade mais conveniente para eleger.

"Observando restos de precedentes migrações egípcias para a Ásia Menor e para os Balcãs, pensaram que seria proveitoso para eles fazer-se passar por cristãos do Egito, perseguidos pelos muçulmanos ou condenados a perpétuo vagar para expiar sua apostasia ".

Esta foi uma sucessiva "correção" que inventaram depois de haver-se dado conta de que sua versão original da escravidão no Egito sob o faraó era auto-destrutiva porque eram etiquetados como judeus. Esta segunda versão é a que o autor considera " a mais antiga menção desta lenda, no século XVI d. c. ", porém a história original é muito mais antiga. Os ciganos nunca disseram que provinham da India até que alguns gadjôs no século XX lhes dissessem que haviam estudado muito e que a "ciência" estabelece que eles são indianos.

A convicção do autor de que a pátria original dos rom era a cidade de Kannauj se baseia simplesmente sobre uma conjectura, reunindo elementos débeis que não provam nada e são facilmente desmentidos pelas evidências que exporei mais adiante. Agora leiamos sua hipótese:

"...uma passagem do Kitab al-Yamini (Livro de Yamin), do cronista árabe Abu Nasr Al- 'Utbi (961-1040), se refere ao ataque do sultão Mahmud de Ghazni à cidade imperial de Kannauj, que concluiu com a pilhagem e a destruição da mesma e a deportação de seus habitantes até o Afganistão em dezembro de 1018...Sem dúvida, com base em crônicas incompletas que mencionam só algumas incursões na India norte-ocidental, não tem sido capazes de descrever inteiramente o mecanismo de tal êxodo...descreve uma invasão no inverno de 1018-1019, que chegou muito mais longe para o leste, mais além de Mathuta, até a prestigiosa cidade de Kannauj, 50 milhas a noroeste de Kanpur...No início do século XI, Kannauj (a Kanakubja do Mahabharata e do Ramayana), que se extendia por milhas ao longo do Ganges, era um importante centro cultural e econômico da India setentrional; não só porque os mais instruídos brâmanes da India afirmam ser de Kannauj (como ainda hoje), senão também porque era uma cidade que havia conseguido um alto nível de civilização em termos que hoje definiríamos como democracia, tolerância, direitos humanos, pacifismo e inclusive ecumenismo. Sem dúvida, no inverno de 1018-19, uma força invasora proveniente de Ghazni (atual Afeganistão) capturou os habitantes de Kannauj e os vendeu como escravos. Não foi a primeira incursão do sultão, porém as anteriores haviam chegado só até o Punjab e Rajastão. Esta vez chegou até Kannauj, uma cidade com mais de 50.000 habitantes e em 20 de dezembro de 1018 capturou a população inteira, "ricos e pobres, claros e obscuros [...] a maioria deles eram "nobres, artistas e artesãos", para vendê-los, "famílias inteiras", em Ghazni e Kabul (segundo o texto de Al-'Utbi). Logo, segundo o mesmo texto, Jorasán e Iraque estavam "cheios desta gente" .

O que é que nos leva a pensar que a orígem dos rom tenha que ver com esta deportação?"

Aqui o autor demonstra que não lhe importam minimamente os elementos culturais do povo rom, mas que está somente interessado em encontrar uma possível orígem na India e em nenhuma outra parte. Por conseguinte, muitos detalhes importantes tem sido completamente ignorados. Aqui menciono alguns: - Naquele tempo, a cidade de Kannauj era governada pela dinastia Pratihara, que não eram hindus e sim de etnia guijar, quer dizer, jázaros. Segundo as regras linguísticas, os termos hindus "gujjar" e "gujrati" derivam do nome original dos jázaros (khazar) através das regras fonéticas comuns destas línguas: os dois idiomas hindus, não tendo os fonemas "kh" ("j") nem "z", os transcrevem como "g" e "j" ("y").

Portanto, se os ciganos eram os habitantes de Kannauj não eram hindus e sim uma etnia muito próxima aos húngaros, aos búlgaros, a uma pequena parte dos judeus ashkenazim, aos bashkires, aos chuvashes e a alguns povos do Cáucaso e do vale do Volga... A designação "húngaros" que lhes é normalmente atribuida em muitos países ocidentais não seria tão errada - mais exata que a definição de "indianos" ou "hindus", em todo caso.

· Se fora certo que os ciganos estiveram sempre na India até o século XI e.c. como afirma o autor, haveriam certamente praticado a religião mais difundida nessa terra, ou de todo modo teriam absorvido muitos elementos do bramanismo, especialmente se ser um braman de Kannauj era um grande privilégio que outorgava tanto prestígio. Sem dúvida, não se encontra o menor vestígio de tradição bramânica na cultura e espiritualidade romaní, ao contrário, não há nada mais distante do "romaimôs" (ciganidade) que o hinduísmo, o jainismo, o sikhismo ou qualquer outro "ismo" de orígem indiana.

·O sultão de Ghazni era indubitavelmente muçulmano. O povo que ele deportou se estabeleceu no Afeganistão, Jorasan e outras regiões do Iran. Isto não haveria favorecido a adoção de elementos culturais do mazdeísmo - (zoroastrismo, que são muito evidentes na cultura romaní) mas ao contrário, teria contribuido a evitá-los porque os adoradores do fogo haviam sido praticamente aniquilados pelo islam - certamente um povo no exílio não teria adotado uma religião proibida para serem exterminados definitivamente! Portanto, o povo rom esteve em terras iranianas antes de chegar à India e sua cultura estava já bem definida quando chegaram ali. Existe um só povo que tem exatamente as mesmas características: os israelitas do Reino de Samaria exilados na Média, que conservaram sua herança Mosaica porém também adotaram práticas dos magos (classe social dedicada ao culto do fogo na Pérsia), e só uma coisa não conservaram: seu idioma original (como tampouco os judeus do reino de Jerusalém, já que o hebraico não se falou mais até a fundação do Estado de Israel em 1948 e.c.). Os judeus da India falam línguas indianas, porém são judeus e não indo-europeus.

"·A deusa protetora de Kannauj era Kali, uma divindade que é muito popular entre os ciganos."

A devoção de alguns grupos para "Sara kali" na Camargue (sul da França) tem que ver com a tradição católica romana, não com o hinduísmo. De fato, há "vírgens negras" em quase todos os países católicos (inclusive na Polônia). Sara "kali" se chama assim porque é negra, e por casualidade ou não, tem o mesmo nome que a mãe do povo hebreu, o que pode ser a razão pela qual os ciganos católicos a elegeram como a própria santa.

"·Ademais, o antigo nome da cidade era Kanakubja (ou Kanogyza em textos gregos), que significava "molestada, vírgem maculada". A orígem deste surpreendente nome se encontra numa passagem do Ramajan de Valmiki: Kusmabha fundou uma cidade chamada Mahodaja (Grande Prosperidade); ele tinha cem formosas filhas e um dia, quando brincavam no jardim real, Váju, deus do vento, se enamorou delas e quis casar-se com elas. Desgraçadamente foi rechaçado e as molestou a todas, o que deu o nome à cidade. Em outra versão, Kana Kubja era o sobrenome de uma devota molestada de Krishna, a qual o deus lhe deu um corpo restabelecido e forte como recompensa pela unção de seus pés. De fato, "vírgem molestada" era um dos títulos de Durga, a deusa guerreira, outra forma de Kali. Em outras palavras, podemos fazer uma identificação: kana kubja ("vírgem molestada") = Durga = Kali. Rajko Djuric mencionou algumas similaridades com o culto romaní de Bibia ou Kali Bibi e o mito hindu de Kali."

As evidências

Há evidências irrefutáveis que concernem ao povo rom, que são a chave para descobrir sua verdadeira orígem e permitem elaborar uma trajetória histórica factível. Aqui apresento algumas delas.

Credo

As crenças ciganas mostram as seguintes características:

·Estrito monoteísmo, sem o mínimo indício de algum passado politeísta ou panteísta.

·O caráter muito pessoal de Deus, Que é acessível e com Quem é possível dialogar e inclusive discutir (concepção hebraica) - não é inacessível como Alá nem tampouco relativamente acessível como no cristianismo, que necessita de um Mediador para ter um contato pessoal com Ele.

·A existência de um mundo espiritual que consiste em espíritos puros e impuros (concepção hebraica), que representam o bem e o mal e lutam constantemente - este conceito é originalmente hebraico, porém com uma marcada influência zoroástrica que é o resultado natural do exílio assírio/babilônico/persa e que se desenvolveu da mesma forma que o judaísmo cabalístico, mostrando uma evolução contemporânea da espiritualidade cigana e do judaísmo místico, no mesmo ambiente geográfico.

·A crença na morte como uma passagem definitiva ao mundo espiritual (conceito hebreu). Não se encontra o menor indício da idéia da reencarnação.

·A pessoa falecida é impura durante sua viagem ao reino das almas (conceito hebreu), e todas as coisas relacionadas com sua morte são impuras, como também o são seus parentes durante o período do luto (conceito hebreu). Maiores detalhes no tema seguinte, "marimé".

·O destino final do cigano depois da morte é o Paraíso, enquanto que os gadjôs podem ser redimidos e ascender ao Paraíso se foram bons com os ciganos - uma idéia similar ao conceito judeu de "justo entre os gentis".

Estes parâmetros de fé vão mais além da religião "oficial" que os ciganos possam professar. Geralmente há elementos adicionais que pertencem à coinfissão adotada, os quais expressam de modo pitoresco e observam com grande respeito, como por exemplo a "pomana", uma prática ortodoxa, e outras cerimônias. Também há particulares complementares de natureza supersticiosa, todos os quais tem sua orígem no culto do fogo da antiga Pérsia. Alguns são válidos no interior da sociedade cigana, como por exemplo ter sempre o fogo aceso em casa, dia e noite, inverno e verão (uma tradição que mantem as famílias mais conservadoras, enquanto que em geral está evoluindo para o uso de um fogo "simbólico" como a televisão, sempre acesa mesmo que não a esteja vendo ninguém). Outros costumes se praticam só externamente, como a adivinhação, leitura das mãos, tarot, etc., em cujos poderes particulares os ciganos não crêem porém os usam como meio de ganho no mundo dos gadjôs. Isto foi aprendido dos magos e alquimistas da Pérsia.

Há fundados motivos para pensar que os rom eram já cristãos desde o primeiro século d. c., quer dizer, antes que chegassem à India ou durante o primeiro período de sua estadia nessa região, e é a razão pela qual não adotaram nenhum elemento hinduista em suas crenças. Resulta que os rom eram bem informados sobre o cristianismo quando chegaram à Europa, apesar de não haver tido a possibilidade de ler a Bíblia. Há algo misterioso na espiritualidade cigana que nas últimas décadas os levou a uma aproximação genuína aos movimentos evangélicos (a forma do cristianismo mais próxima do judaísmo, sem santos nem culto de imagens) e neste período muitos ciganos estão dando um passo sucessivo para o judaísmo messiânico. Não existe nenhum outro povo no mundo que tenha experimentado um tal número de conversões, quase em massa, em tão pouco tempo. O fato interessante é que este fenômeno não é resultado de obra missionária mas que se manifestou de modo expontâneo e autônomo (efetivamente, os gadjôs dificilmente se atreveriam a evangelizar os "ciganos", devotos das artes ocultas e da magia, segundo os comuns preconceitos). Contra toda probabilidade lógica, ciganos de distintos países e quase contemporâneamente, sem conhecer-se nem comunicar-se entre si, começaram a ler a Bíblia e formar suas próprias comunidades evangélicas. Agora existe a atividade missionária, porém é desenvolvida pelos ciganos mesmos e dirigida ao próprio povo. Isto se explica só considerando que existe uma herança atávica que é um fator especial da espiritualidade romaní. A maioria dos rom agora está abandonando práticas ancestrais originadas no culto do fogo e outras práticas proibidas pela Torá, como a pomana, a adivinhação e outras coisas.

Uma conjectura factível (ressalto: uma conjectura) pode ser que a primeira aproximação ao cristianismo tenha que ver com os bíblicos "magos do oriente" que foram adorar ao infante Yeshua de Nazaré; evidentemente não eram simplesmente adoradores do fogo persas, mas pessoas que esperavam na promessa messiânica de Israel. Portanto, israelitas do antigo Reino de Samaria que nesse tempo estavam já completamente imersos no culto zoroástrico, porém esperando a redenção do próprio povo. Documentos históricos assinalam que no século I d. c. houve conversões em massa na Assíria, onde os apóstolos foram enviados a buscar as "ovelhas perdidas da Casa de Israel", e muitos habitavam precisamente nessa região. Outros apóstolos chegaram à India. Um fato curioso é que os israelitas recentemente descobertos na India são cristãos, não hindus ou de outra religião. A completa ausência de elementos hindus na espiritualidade romaní deve ter um significado.

As leis rituais, "marimé"

O conceito cigano de "marimê" equivale à forma negativa do conceito judeu de "kosher"; o primeiro indica impureza ritual, o segundo se refere à pureza ritual. A parte esta diferença de ponto de vista, a essência é a mesma (é como dizer se o copo está metade cheio ou metade vazio). O que para os rom é marimê, não é kosher para um judeu, portanto ambos tomaram as medidas necessárias para não serem contaminados, ou se se referem à uma contaminação inevitável ou indispensável, ambos seguirão certas regras para purificar-se. Da mesma maneira que é a kashrut no judaísmo, as leis que regulam o marimê são um valor fundamental na sociedade romaní e determinam os limites do ambiente social e espiritual, e condicionam suas relações com o mundo exterior (a sociedade dos gadjôs). Os Rom classificam todas as coisas em duas categorias: "vuzhô" (=kosher, puro) ou "marimê" (impuro). Esta classificação concerne primeiramente ao corpo humano, porém se extende ao mundo espiritual, à casa ou acampamento, animais e coisas.

·O corpo humano: as regras que regem as partes do corpo que devem ser consideradas impuras são exatamente as mesmas que encontramos na Torá (Lei de Moisés), em Levítico cap. 15. Em primeiro lugar, os órgãos genitais, porque transmitem fluxos do interior do corpo, e a parte inferior do corpo, porque está abaixo dos genitais. A parte superior externa do corpo é pura, a boca em primeiro lugar. As mãos tem um caráter transitivo porque devem exercitar atos puros e impuros alternativamente, pelo qual devem ser lavadas de um modo particular, por exemplo se alguém deve comer depois de ter posto os sapatos ou levantado da cama (que é impura porque está em contato com o corpo inferior). Quando as mãos foram contaminadas, devem lavar-se com um sabão separado e secar-se com uma toalha separada para tal fim. Distintos sabões e toalhas se devem usar sempre para as partes superior e inferior do corpo, e não podem ser intercambiados.

·Roupas: devem-se distinguir para serem lavadas separadamente, em diferentes recipientes destinados para cada categoria. As vestes impuras se devem lavar sempre no recipiente marimê, e os vestidos puros por sua vez se separam das toalhas e guardanapos, pois vão à mesa e tem seu próprio recipiente. As vestes do corpo superior e das crianças se lavam no recipiente vuzhô, os do corpo inferior no recipiente marimê. Todos as vestes da mulher são impuras no período das menstruações e se lavam com os artigos marimê. O único povo que aplica estas regras para lavar fora os ciganos são os judeus.

·O acampamento: antes da recente urbanização forçada, o lar romaní era o campo, muito mais que a casa. O campo goza da categoria de pureza territorial, pelo qual as necessidades fisiológicas se devem fazer fora do mesmo e das proximidades (ou eventualmente, os serviços higiênicos se constroem fora do campo); este é um preceito judaico (Deuteronômio 23:12). O lixo também deve ser posto a uma distância aceitável do campo.

·Nascimento: o nascimento de uma criança é um evento impuro e deve ocorrer, quando possível, em uma tenda isolada próxima, fora do campo. Depois do nascimento, a mãe é considerada impura por quarenta dias e sobretudo na primeira semana: esta regra é exclusivamente mosaica, estabelecida na Torá - Levítico 12:2-4 -. Durante esse período, a mulher não pode ter contato com coisas puras ou realizar atividades como cozinhar ou apresentar-se em público, especialmente na presença dos anciães, e não pode assistir a serviços religiosos. São destinados pratos, xícaras e utensílios exclusivamente para ela, os quais se descartam passado o período de purificação, assim mesmo os vestidos e a cama que usou se queimam, e também a tenda onde ela habitou durante esses 40 dias. Esta lei é completamente desconhecida para todos os povos, exceto ciganos e judeus.

·Morte: como prescreve a Lei judaica, a morte de uma pessoa comporta impureza ritual para todos os familiares e todas as coisas que tenham sido involucradas nesse momento. Toda a comida que havia na casa do falecido deve ser jogada, e a família é impura por três dias. Devem-se observar regras particulares durante esses três dias, como lavar-se só com água para não fazer espuma, não pentear-se nem enfeitar-se, nem varrer, nem fazer furos, nem escrever ou pintar, nem tirar fotografias, e muitas outras coisas. Os espelhos devem ser cobertos. O acampamento onde ocorreu a morte é abandonado e transladado a outro lugar, ou se vende a casa aos gadjôs. A alma do defunto se crê que vaga por três dias para purificar-se antes de chegar a sua habitação final: isto não está escrito nas Escrituras Hebréias, porém é uma idéia comum entre algumas correntes místicas do judaísmo. O conceito que estabelece que o contato com o corpo morto implica impureza não se encontra em nenhuma tradição se não só na Bíblia (Levítico 21:1). Assim como está prescrito na Lei Judaica, também entre os rom é obrigatório que o corpo seja sepultado e não pode ser queimado.

·Coisas: podem ser marimê por natureza ou por uso, ou ser contaminadas por circunstâncias acidentais. Qualquer coisa que entre em contato com a parte inferior do corpo é impura, como sapatos, meias, etc., enquanto que as mesas são puras. As regras que concernem estas leis são descritas em Levítico 15 e outras Escrituras Hebraicas.

·Animais: os ciganos consideram que os animais podem ser puros ou impuros, ainda que os parâmetros em base aos quais são classificados diferem dos hebraicos. Por exemplo, cachorros e gatos são marimê porque lambem a si mesmos, cavalos, asnos e todo animal de monta é impuro porque a pessoa se senta sobre eles, etc. Os animais impuros não se devem comer.

·Espíritos: os espíritos maléficos são marimê, o que é um conceito judaico.

Leis matrimoniais

O noivado e as bodas ciganas se celebram da mesma maneira que se fazia no antigo Israel. Os pais de ambos os esposos tem um papel essencial quanto a definir o dote da noiva, e as bodas se devem realizar dentro da comunidade rom, sem participação das instituições dos gadjôs. No caso em que a mulher foge com seu homem sem o acordo dos pais, o casal é automaticamente reconhecido como casado, porém a família do noivo deve pagar um ressarcimento aos pais da noiva, normalmente equivalente ao dobro do dote; tal compensação se chama "kepara", uma palavra que tem o mesmo significado do termo hebreu "kfar" (Deuteronômio 22:28-29). O pagamento do dote por parte da família do noivo aos pais da noiva é um regulamento bíblico, exatamente o contrário dos povos da India, nos quais é a família da noiva que deve pagar à do noivo.

Há um preceito particular que deve ser observado para consolidar o matrimônio, o "pano da virgindade", que deve ser mostrado à comunidade depois da primeira relação sexual - este preceito está escrito na Torá, Deuteronômio 22:15-17. Logo, no caso de casais que fogem tal prática carece de sentido e portanto não é observada.

Comportamento social

Assim como os judeus, os ciganos assumem distintos parâmetros de comportamento para as relações com sua própria gente e para a interação com os estranhos, de modo tal que se pode afirmar que a oposição rom/gadjôs e judeus/goyim são reguladas de maneira muito similar, quiçá idêntica em quase todos os detalhes. Uma vez que os gadjôs não conhecem as leis que concernem ao marimê, são suspeitos de ser impuros ou se supõe que o sejam; alguns rom nem sequer entram em casas de gadjôs - o mesmo costume existia no antigo Israel, e ainda é praticado pelos judeus ortodoxos. Os gadjôs que se fazem amigos dos ciganos são admitidos quando conhecem as regras e as respeitam de modo que não ofendam à comunidade, depois de ter superado algumas "provas" de confiabilidade. Por outro lado, as instituições dos gadjôs se usam como "zona franca", onde se podem realizar atividades impuras com segurança - um exemplo típico é o hospital, que permite evitar de montar uma tenda especial para o parto.

Cortesia, respeito e hospitalidade são obrigatórios entre os ciganos. Quando se cumprimentam cada um deve perguntar pela família do outro, desejando bem e bençãos para todos os membros, ainda que seja a primeira vez que se encontrem e na realidade não se conheçam as respectivas famílias. A própria apresentação inclui os nomes dos pais, avós e todas as gerações que se recordem - o nome e sobrenome civis não tem importância; os ciganos se chamam como no antigo Israel, A filho de B, filho de C, da família D. Isto é comum a vários povos do Oriente Médio, porém o modo como o fazem os ciganos é particularmente bíblico.

As causas judiciais entre os rom se apresentam à assembléia de anciães, exatamente como na Lei Mosaica. A assembléia de anciães se chama "kris", e é uma verdadeira Corte de Justiça, cujas sentenças devem ser obedecidas, do contrário a parte inobservante pode ser excluída da comunidade romaní. Os casos geralmente não são tão sérios para não poderem ser resolvidos com o pagamento de uma multa ou ressarcimento, como está regulado na Torá (Êxodo 21:22, 22:9; Deuteronômio 22:16-19).

Há muitos outros aspectos que podem ser de importância secundária, que mesmo assim recordam os antigos costumes e regras israelitas. Lamentavelmente, tais detalhes se vão perdendo com as novas gerações (como muitos se perderam entre os judeus também) por causa do sistema da sociedade moderna que restringe a liberdade de indivíduos e comunidades "exóticas". Porém, os sentimentos e tendências ciganas devem ser levados sériamente em conta, porque correspondem à uma herança psicológica ancestral que se transmitiu de geração em geração, de maneira subconsciente porém reclamando as próprias orígens. Por exemplo, os ciganos não sentem absolutamente nenhuma atração pela cultura ou a música da India (e mais, as mulheres ciganas tem um timbre de voz baixo, em contraste com as cantoras indianas, um detalhe que pode ser insignificante, porém quiçá não), enquanto que os ciganos gostam muito da música do Oriente Médio. Na Europa oriental, a maioria das expressões musicais são ou judias ou ciganas, e muitas vezes a mesma obra é atribuida ou a uma ou a outra destas duas tradições. As bandas de "klezmorim" tem sido muitas vezes compostas por rom junto com judeus, e o jazz de estilo europeu foi cultivado por ciganos e judeus. O flamenco é provavelmente de orígem sefaradita, praticado pelos judeus antes de serem expulsos da Espanha, e logo herdado e desenvolvido pelos ciganos. Em outros aspectos, os rom tem uma grande habilidade comercial (e se é necessário trabalhar em sociedade, os judeus são os preferidos) e aqueles que escolhem inserir-se profissionalmente na sociedade dos "gadjôs", preferem as mesmas carreiras que escolhem os judeus (provavelmente por motivos relacionados com as leis de pureza ritual, que não permitem que se exercite qualquer tipo de trabalho). Enfim, ainda que não menos importante, os ciganos fazem uma distinção entre os "gadjôs" comuns e os judeus, que não são considerados completamente gadjôs, mas como uma categoria intermediária que observa as leis de pureza ritual e portanto não estão sujeitos a suspeitas.

Conclusão:

Este breve estudo tem como objetivo estabelecer as bases para uma nova, diligente e séria investigação sobre a orígem do povo rom e sintos, que seja fundamentada em aspectos culturais e espirituais em lugar de seguir sustentando uma linha exclusivamente linguística que leva a uma posição equivocada. As evidências apresentadas não excluem categoricamente que os rom possam ter habitado em Kannauj ou alguma outra parte da India, ainda que o vale do Indo pareça ser a região mais apropriada, mas demonstra que de todas as maneiras os ciganos não pertencem às etnias indianas (e muito menos arianas), e que suas raízes são semíticas e mais precisamente hebraicas. Grupos israelitas eram numerosos na India, e tem sido possível redescobrir alguns deles deixando de lado a indicação linguística (porque todos eles falavam línguas indianas) e concentrando a investigação em indícios culturais que revelam a verdadeira orígem, tais indícios tem sido até hoje menos determinantes que os que podemos encontrar na cultura romaní, porém tem sido suficientes para reconhecer a etnicidade israelita.

Sándor Avraham

traduzido por João Romano Filho
João Romano Filho (Sinto Estraxhari do Brasil)


ORAÇÃO A SANTA SARAH KALI



Minha doce Santa Sara Kali Tu que és a única Santa Cigana do Mundo,

Tu que sofrestes todas as formas de humilhação e preconceito,

Tu que fostes amedrontada e jogada ao mar.

Para que morresses de sede e de fome.

Tu que sabes o que é o medo. a fome, a mágoa e a dor no coração.

Não permitas que meus inimigos zombem de mim ou me maltratem.

Que Tu sejas minha advogada perante a Deus Que Tu me concedas sorte, saúde, paz e que abençoe a minha vida.

Amém.

ORAÇÃO A SANTA SARAH KALI

Em Romany


Manglimos Katar Santa Sara Kali

Tu Ke San Pervo Icana Romli Anelumia

Tu Ke Biladiato Le Gajie Anassogodi Guindiças

Tu Ke daradiato Le Gajie, Tai Chudiato Anemaria

Thie Meres Bi Paiesco Tai Bocotar

Janes So Si e Dar, E Bock, Thai O Duck Ano Ilô

Thiena Mekes Murre Dusmaia Thie Açal

Mandar Thai Thie Bilavelma

Thie Aves Murri Dukata Angral O Dhiel

Thie Dhiesma Bar, Sastimôs

Thai Thie Blagois Murrô Traio

Thie Diel O Dhiel.